27 de setembro de 2011

REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Mito, História, socialidade e marketing anual na festa da REVOLUÇÃO FARROUPILHA


Postado por Juremir em 21 de setembro de 2011 - História

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Faz 30 anos que Jacques Lacan morreu. Deixou seguidores pelo mundo inteiro. Porto Alegre e Buenos Aires estão entre as cidades com o maior número de psicanalistas lacanianos. Resta saber a razão disso. Lacan era bom de sacadas: o inferno é o desejo, o saber se inventa, o sexo acontece no imaginário. Passou a vida pensando sobre essa tríade: imaginário, simbólico e real. Paulo Freire completaria 90 anos neste 2011. Ele “inventou” um novo saber sobre a educação no Brasil. Estou deliberadamente misturando coisas. As pessoas desejam vibrar em comum, compartilhar sentimentos, participar de uma corrente, gozar em sintonia. As que não conseguem isso, adoecem. Essas ideias saltam da obra de Michel Maffesoli. A vibração em comum depende de um elemento de agregação, no popular, de um ajuntamento, que pode ser verdadeiro ou “inventado”, construído a partir de pedaços de história verdadeiras, até se tornar mito.

As torcidas de futebol são ajuntamentos para vibrar em comum baseadas em histórias míticas, reais e simbólicas dos seus clubes. Por exemplo, sem ironia, a “batalha dos Aflitos”. A Revolução Farroupilha é o principal fator de agregação de gaúchos em busca do compartilhamento de emoções, de uma vibração em comum, de uma “socialidade” intensa, orgânica e prazerosa. Faz gozar. O mito fundador, o totem, a figura que atrai e organiza esses desejos infernais, precisa ser verossímil. A verdade histórica, nesse sentido, embora seja a obrigação do historiador, conta pouco nisso. O mito, frequentemente, é mais útil para esse estar-junto, essa orgia, no bom sentido, da confraternização, do orgulho e da autoestima. Paradoxalmente o mito deve ser defendido como verdade histórico para evitar que tudo se torne falso. Não se pode fingir uma crença. É necessário crer realmente naquilo que se professa. Assim, o historiador, aquele que enuncia uma pretensa “verdade”, é um estraga-prazer e deve ser repudiado como um reles falsificador.

Pois é, repito, quem diria que as ideias de um pensador francês, Michel Maffesoli, cruzadas livremente com as de outros, podem ajudar a compreender melhor a paixão farroupilha? Maffesoli certamente colocaria bombacha e iria para o acampamento. Veria o quanto esse imaginário serve para o que ele chama de “cimento social”, aquilo que mantém as pessoas unidas formando sociedade. Já falei disso. Eu me repito. Sou como as estações do ano. Um déspota esclarecido deveria mandar capar os historiadores, inclusive eu, tornando-os estéreis, para evitar fissuras nos mitos fundadores.

É provável, contudo, que o mito se alimente dessas contestações episódicas, ganhando anticorpos. Afinal, parafraseando Lacan, a história só acontece no imaginário. E, como tenho tentado explicar, todo imaginário é real, assim como todo real é imaginário. Vivemos boa parte do tempo em nossas fantasias. Aquele que segue um dogma, contudo, nunca poderá admitir uma interpretação herética como esta, pois já seria uma forma de desconstrução da sua crença. Os políticos e a mídia, pragmáticos, seguem a onda. Para que questionar aquilo que produz alegria, orgulho e leva a um gozo coletivo?

Quem quiser História, leia o meu História regional da infâmia, o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginários.

Quem achar que só quero vender livros, fantasia de quem não é escritor, que não o compre. Pegue numa biblioteca.

Ou, se gostar de emoções fortes, tente roubá-lo numa livraria.

Se for preso, o que seria merecido, teria tempo para ler e digerir tudo numa cela confortável.

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COPIADO DO BLOG DE JUREMIR MACHADO DA SIVA
http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=1476
 

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